"Conta-se que havia na China uma mulher
belíssima que enlouquecia de amor
todos os homens. Mas certa vez caiu
nas profundezas de um lago e assustou os peixes."
Tenho meditado e sofrido
Irmanada com esse corpo
E seu aquático jazigo
Pensando
Que se a mim não me deram
Esplêndida beleza
Deram-me a garganta
Esplandecida: a palavra de ouro
A canção imantada
O sumarento gozo de cantar
Iluminada, ungida.
E te assustas do meu canto.
Tendo-me a mim
Preexistida e exata
Apenas tu, Dionísio, é que recusas
Ariana suspensa nas tuas águas.
(Hilda Hilst, "Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé. De Ariana para Dionísio", em Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão)
(Interpretação de Mônica Salmaso. Poema musicado por Zeca Baleiro)